terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Vejam essa interessante publicação da Revista Veja

08/12/2011
às 21:14 \ Sem categoria

Células-tronco de polpa dentária promovem regeneração da medula espinhal em ratos

 

Um grupo de pesquisadores da universidade de Nagoya, no Japão, acaba de publicar uma pesquisa muito promissora: a partir de células-tronco (CT) obtidas de polpa dentária humana – que tem o potencial de diferenciar-se em células ósseas, cartilaginosas, adiposas e também neurônios em condições especiais de cultivo – eles conseguiram regenerar a medula espinhal que havia sido seccionada em ratos adultos e recuperar a função locomotora das suas patas traseiras. O trabalho, liderado por Minori Ueda, foi publicado na prestigiosa revista The Journal of Clinical Investigation.



O que tem mostrado outros estudos pré-clínicos com CT na regeneração da medula?
A identificação de CT capazes de recuperar a medula espinhal após injúria tem sido objeto de muita investigação. Na última década células-tronco de diferentes origens (incluindo CT humanas neurais, CT derivadas de embriões e CT da medula óssea) foram transplantadas em ratos ou camundongos que haviam sofrido lesão da medula e seus efeitos foram avaliados. Entretanto as pesquisas mostraram que essas células tinham uma sobrevida e/ou capacidade de regeneração reduzida com pouco benefício terapêutico.


Como foi feita essa nova pesquisa do grupo japonês?
Os cientistas obtiveram CT da polpa dentária de dentes de leite e de adultos (dente de siso) e o primeiro passo foi verificar se elas conseguiam se diferenciar em cultura em células neurais, isto é, se elas expressavam vários fatores que são característicos de células nervosas. É importante lembrar que existem vários tipos de células nervosas que são necessários para se recuperar a função sensorial e motora após uma lesão de medula. Uma vez confirmado que as CT da polpa dentária expressavam fatores característicos de diferentes células neurais elas foram transplantadas em ratos imediatamente após esses terem sido submetidos a uma secção total da medula espinhal. Para verificar se os resultados dependiam das propriedades das CT da polpa dentária e não da metodologia empregada os cientistas usaram como controles dois grupos de ratos submetidos ao mesmo experimento: no primeiro grupo injetaram CT da medula óssea e no segundo fibroblastos ( células derivadas da pele).


Quais foram os resultados?
Ratos que haviam sido transplantados com CT de polpa dentária humana – tanto de dente de leite, como adulto – mostraram uma recuperação muito superior à observada nos grupos injetados com CT de medula óssea ou fibroblastos. Essa melhoria foi observada logo após a operação durante a fase aguda da lesão medular. Cinco semanas após o transplante, os ratos com CT de polpa dentária eram capazes de locomover as patas traseiras de modo coordenado, enquanto os dois outros grupos só conseguiam movimentos sutis. De acordo com os pesquisadores, a observação de que os animais conseguiram recuperar os movimentos sugerem que as CT derivadas da polpa dentária foram capazes de promover também a regeneração dos axonios, as terminações nervosas que são projetadas a partir dos neurônios da medula espinhal.


Em resumo as perspectivas são otimistas
As CT derivadas de polpa dentária mostraram uma capacidade neuroregenerativa significante quando injetadas em ratos imediatamente após a secção da medula espinhal . Houve inibição da morte dos neurônios e células da bainha de mielina (a bainha que recobre as terminações nervosas) após a injúria, regeneração dos axonios (terminações nervosas) e substituição de oligodendrócitos lesionados (as células responsáveis pela formação e manutenção das bainhas de mielina) por oligodendrócitos maduros. Entretanto os pesquisadores reconhecem que esses resultados só foram obtidos imediatamente após a secção total da medula – o que certamente não poderá ser avaliado em seres humanos – e não sabemos quais seriam os resultados em diferentes lesões da medula. De qualquer modo essa pesquisa abre perspectivas muito otimistas.

Por Mayana Zatz

domingo, 18 de dezembro de 2011

O papel do cirurgião-dentista na UTI

As unidades de terapia intensiva (UTIs) têm a finalidade de agrupar pacientes com necessidades de cuidados frequentes e extraordinários de suporte de vida. Nes­ses pacientes, o monitoramento de órgãos e sistemas, que não são a causa direta do problema, não é esquecido.




Cirurgiões-dentistas atendem paciente em UTI Adulto
Este monitoramento também deve incluir o sistema estomatogná­tico, pois existem evidências clínicas de que a saúde bucal está relacionada à saúde geral.
Os cuidados bucais dos pacientes de UTIs são essenciais para evitar a proliferação de bactérias e fungos, que, além de pre­judicar a saúde bucal e o bem-estar do paciente, pode preju­dicar outros órgãos e sistemas, agravando o quadro clínico e prolongando a estada na UTI. A diminuição na limpeza natural da boca pela mastigação, pela movimentação de língua, boche­chas, a xerostomia e a ventilação mecânica (intubação) que im­pede o fechamento da boca deixando-a ressecada, somada às periodontopatias, favorecem a colonização por micro-organis­mos, agravando ainda mais a condição sistêmica pré-existente, influenciando o curso das infecções respiratórias. Após a aspi­ração, esses patógenos vão para as vias aéreas inferiores e os pacientes que recebem intubação e ventilação mecânica têm as defesas alteradas, aumentando o risco de desenvolver uma infecção pulmonar, principalmente broncopneumonia – BCP.
A cavidade oral tem sido considerada como um potente re­servatório de patógenos respiratórios, em especial, a pneu­monia nosocomial, ou por aspiração, que é uma infecção prevalente de alto custo e representa uma significativa causa de morbidade e mortalidade. A maioria dos pacientes que se encontram impossibilitados (de forma temporária ou perma­nente) com pneumonia bacteriana nosocomial são: crianças, jovens, pessoas acima de 65 anos de idade, pessoas que têm doença de base grave, imunossupressão, doença cardiopul­monar e pessoas que fizeram cirurgia tóracoabdominal.


Os protocolos de cuidados com a saúde bucal para diminuir riscos de doenças sistêmicas infecciosas são de grande valia para a saúde pública e privada, mas poucas instituições em­pregam esses protocolos para pacientes internados em en­fermarias ou UTI. Nunca é demais lembrar que ter saúde bu­cal é um direito de cidadania, assegurado pela Constituição de 1988, direito que deve ser efetivado mediante políticas públicas ou privadas, assegurando a promoção, a proteção e a recuperação, significando o acesso universal e igualitário às ações e serviços de saúde.
Medidas simples, como limpar a região peribucal, mucosa jugal, palato, dentes ou rebordos alveolares e a língua, com gaze e escovas dentais descartáveis embebidas em digluco­nato de clorexidina a 0,12% duas vezes ao dia, influenciam na prevenção da pneumonia nosocomial, modulando-se o am­biente oral.
A clorexidina, até o momento, é o agente antimicrobiano local e apresenta boa substantividade, pois se adsorve às super­fícies orais, mostrando efeitos bacteriostáticos até 12 horas após a sua utilização, pois é de amplo espectro e atua como antisséptico, descontaminando a cavidade bucal. A concen­tração preconizada atualmente é de 0,12%, o que permite a retenção de mais de 30% da clorexidina nos tecidos moles.
Alguns desafios são identificados, mas nenhum que não pos­sa ser enfrentado:
  • Cirurgião-Dentista com conhecimento de fisiologia oral, identificando as barreiras relacionadas à higiene bucal para saber transmitir à equipe de enfermagem.
  • Aquisição ou adaptação de materiais já existentes na UTI.
  • Percepção da importância do tratamento bucal e entender o desconforto do paciente pela equipe de enfermagem.
  • Dificuldades de comunicação com o paciente crítico.
O projeto de lei 2776/2008, de autoria do Deputado Federal Neilton Mulin (PR-RJ), está em andamento na Câmara dos Deputados, que torna obrigatória a inclusão do cirurgião-den­tista nas equipes multiprofissionais das unidades de terapia intensiva (UTI), e se aprovado, vai garantir mais benefícios para a população e para a Odontologia. As dificuldades na melhora do quadro clínico do paciente infantil ou adulto e o prolongamento do tempo de internação na UTI geram uma diminuição no número de vagas disponíveis e, consequente, aumento dos gastos hospitalares.
A participação do cirurgião-dentista na relação interdiscipli­nar de saúde é de fundamental importância para a terapêutica e qualidade de vida dos pacientes hospitalizados.