domingo, 18 de dezembro de 2011

O papel do cirurgião-dentista na UTI

As unidades de terapia intensiva (UTIs) têm a finalidade de agrupar pacientes com necessidades de cuidados frequentes e extraordinários de suporte de vida. Nes­ses pacientes, o monitoramento de órgãos e sistemas, que não são a causa direta do problema, não é esquecido.




Cirurgiões-dentistas atendem paciente em UTI Adulto
Este monitoramento também deve incluir o sistema estomatogná­tico, pois existem evidências clínicas de que a saúde bucal está relacionada à saúde geral.
Os cuidados bucais dos pacientes de UTIs são essenciais para evitar a proliferação de bactérias e fungos, que, além de pre­judicar a saúde bucal e o bem-estar do paciente, pode preju­dicar outros órgãos e sistemas, agravando o quadro clínico e prolongando a estada na UTI. A diminuição na limpeza natural da boca pela mastigação, pela movimentação de língua, boche­chas, a xerostomia e a ventilação mecânica (intubação) que im­pede o fechamento da boca deixando-a ressecada, somada às periodontopatias, favorecem a colonização por micro-organis­mos, agravando ainda mais a condição sistêmica pré-existente, influenciando o curso das infecções respiratórias. Após a aspi­ração, esses patógenos vão para as vias aéreas inferiores e os pacientes que recebem intubação e ventilação mecânica têm as defesas alteradas, aumentando o risco de desenvolver uma infecção pulmonar, principalmente broncopneumonia – BCP.
A cavidade oral tem sido considerada como um potente re­servatório de patógenos respiratórios, em especial, a pneu­monia nosocomial, ou por aspiração, que é uma infecção prevalente de alto custo e representa uma significativa causa de morbidade e mortalidade. A maioria dos pacientes que se encontram impossibilitados (de forma temporária ou perma­nente) com pneumonia bacteriana nosocomial são: crianças, jovens, pessoas acima de 65 anos de idade, pessoas que têm doença de base grave, imunossupressão, doença cardiopul­monar e pessoas que fizeram cirurgia tóracoabdominal.


Os protocolos de cuidados com a saúde bucal para diminuir riscos de doenças sistêmicas infecciosas são de grande valia para a saúde pública e privada, mas poucas instituições em­pregam esses protocolos para pacientes internados em en­fermarias ou UTI. Nunca é demais lembrar que ter saúde bu­cal é um direito de cidadania, assegurado pela Constituição de 1988, direito que deve ser efetivado mediante políticas públicas ou privadas, assegurando a promoção, a proteção e a recuperação, significando o acesso universal e igualitário às ações e serviços de saúde.
Medidas simples, como limpar a região peribucal, mucosa jugal, palato, dentes ou rebordos alveolares e a língua, com gaze e escovas dentais descartáveis embebidas em digluco­nato de clorexidina a 0,12% duas vezes ao dia, influenciam na prevenção da pneumonia nosocomial, modulando-se o am­biente oral.
A clorexidina, até o momento, é o agente antimicrobiano local e apresenta boa substantividade, pois se adsorve às super­fícies orais, mostrando efeitos bacteriostáticos até 12 horas após a sua utilização, pois é de amplo espectro e atua como antisséptico, descontaminando a cavidade bucal. A concen­tração preconizada atualmente é de 0,12%, o que permite a retenção de mais de 30% da clorexidina nos tecidos moles.
Alguns desafios são identificados, mas nenhum que não pos­sa ser enfrentado:
  • Cirurgião-Dentista com conhecimento de fisiologia oral, identificando as barreiras relacionadas à higiene bucal para saber transmitir à equipe de enfermagem.
  • Aquisição ou adaptação de materiais já existentes na UTI.
  • Percepção da importância do tratamento bucal e entender o desconforto do paciente pela equipe de enfermagem.
  • Dificuldades de comunicação com o paciente crítico.
O projeto de lei 2776/2008, de autoria do Deputado Federal Neilton Mulin (PR-RJ), está em andamento na Câmara dos Deputados, que torna obrigatória a inclusão do cirurgião-den­tista nas equipes multiprofissionais das unidades de terapia intensiva (UTI), e se aprovado, vai garantir mais benefícios para a população e para a Odontologia. As dificuldades na melhora do quadro clínico do paciente infantil ou adulto e o prolongamento do tempo de internação na UTI geram uma diminuição no número de vagas disponíveis e, consequente, aumento dos gastos hospitalares.
A participação do cirurgião-dentista na relação interdiscipli­nar de saúde é de fundamental importância para a terapêutica e qualidade de vida dos pacientes hospitalizados.
 

2 comentários:

  1. Novas conquistas para a Odontologia.
    Ah... gostei da retomada do blog.
    Feliz Natal e Ano Novo.

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  2. obrigada Flávio.Que Deus te ilumine com muita saúde, paz, alegria e muita felicidade.te desejo tudo de bom para você e sua família.

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