As unidades de terapia intensiva (UTIs) têm a finalidade de agrupar pacientes com necessidades de cuidados frequentes e extraordinários de suporte de vida. Nesses pacientes, o monitoramento de órgãos e sistemas, que não são a causa direta do problema, não é esquecido.
Cirurgiões-dentistas atendem paciente em UTI Adulto
Este monitoramento também deve incluir o sistema estomatognático, pois existem evidências clínicas de que a saúde bucal está relacionada à saúde geral.
Os cuidados bucais dos pacientes de UTIs são essenciais para evitar a proliferação de bactérias e fungos, que, além de prejudicar a saúde bucal e o bem-estar do paciente, pode prejudicar outros órgãos e sistemas, agravando o quadro clínico e prolongando a estada na UTI. A diminuição na limpeza natural da boca pela mastigação, pela movimentação de língua, bochechas, a xerostomia e a ventilação mecânica (intubação) que impede o fechamento da boca deixando-a ressecada, somada às periodontopatias, favorecem a colonização por micro-organismos, agravando ainda mais a condição sistêmica pré-existente, influenciando o curso das infecções respiratórias. Após a aspiração, esses patógenos vão para as vias aéreas inferiores e os pacientes que recebem intubação e ventilação mecânica têm as defesas alteradas, aumentando o risco de desenvolver uma infecção pulmonar, principalmente broncopneumonia – BCP.
A cavidade oral tem sido considerada como um potente reservatório de patógenos respiratórios, em especial, a pneumonia nosocomial, ou por aspiração, que é uma infecção prevalente de alto custo e representa uma significativa causa de morbidade e mortalidade. A maioria dos pacientes que se encontram impossibilitados (de forma temporária ou permanente) com pneumonia bacteriana nosocomial são: crianças, jovens, pessoas acima de 65 anos de idade, pessoas que têm doença de base grave, imunossupressão, doença cardiopulmonar e pessoas que fizeram cirurgia tóracoabdominal.
Os protocolos de cuidados com a saúde bucal para diminuir riscos de doenças sistêmicas infecciosas são de grande valia para a saúde pública e privada, mas poucas instituições empregam esses protocolos para pacientes internados em enfermarias ou UTI. Nunca é demais lembrar que ter saúde bucal é um direito de cidadania, assegurado pela Constituição de 1988, direito que deve ser efetivado mediante políticas públicas ou privadas, assegurando a promoção, a proteção e a recuperação, significando o acesso universal e igualitário às ações e serviços de saúde.
Medidas simples, como limpar a região peribucal, mucosa jugal, palato, dentes ou rebordos alveolares e a língua, com gaze e escovas dentais descartáveis embebidas em digluconato de clorexidina a 0,12% duas vezes ao dia, influenciam na prevenção da pneumonia nosocomial, modulando-se o ambiente oral.
A clorexidina, até o momento, é o agente antimicrobiano local e apresenta boa substantividade, pois se adsorve às superfícies orais, mostrando efeitos bacteriostáticos até 12 horas após a sua utilização, pois é de amplo espectro e atua como antisséptico, descontaminando a cavidade bucal. A concentração preconizada atualmente é de 0,12%, o que permite a retenção de mais de 30% da clorexidina nos tecidos moles.
Alguns desafios são identificados, mas nenhum que não possa ser enfrentado:
- Cirurgião-Dentista com conhecimento de fisiologia oral, identificando as barreiras relacionadas à higiene bucal para saber transmitir à equipe de enfermagem.
- Aquisição ou adaptação de materiais já existentes na UTI.
- Percepção da importância do tratamento bucal e entender o desconforto do paciente pela equipe de enfermagem.
- Dificuldades de comunicação com o paciente crítico.
O projeto de lei 2776/2008, de autoria do Deputado Federal Neilton Mulin (PR-RJ), está em andamento na Câmara dos Deputados, que torna obrigatória a inclusão do cirurgião-dentista nas equipes multiprofissionais das unidades de terapia intensiva (UTI), e se aprovado, vai garantir mais benefícios para a população e para a Odontologia. As dificuldades na melhora do quadro clínico do paciente infantil ou adulto e o prolongamento do tempo de internação na UTI geram uma diminuição no número de vagas disponíveis e, consequente, aumento dos gastos hospitalares.
A participação do cirurgião-dentista na relação interdisciplinar de saúde é de fundamental importância para a terapêutica e qualidade de vida dos pacientes hospitalizados.
Novas conquistas para a Odontologia.
ResponderExcluirAh... gostei da retomada do blog.
Feliz Natal e Ano Novo.
obrigada Flávio.Que Deus te ilumine com muita saúde, paz, alegria e muita felicidade.te desejo tudo de bom para você e sua família.
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