9º Fichamento
Prevalência e características associadas à síndrome metabólica em nipo-brasileiros com e sem doença periodontal
Autores: Pollyanna Kássia de Oliveira Borges; Suely Godoy Agostinho Gimeno; Nilce Emy Tomita; Sandra Roberta Ferreira; Japanese-Brazilians Diabetes Study Groupo.
Cad. Saúde Pública. 2007, vol.23, n.3, pp. 657-668.
“A síndrome metabólica é o nome proposto pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo National Cholesterol Education Program (NCEP) para designar um conjunto de alterações metabólicas (dislipidemia, hipertensão arterial, intolerância à glicose, obesidade central e resistência à insulina) que comumente se manifestam juntas e são fatores de risco para a doença coronariana.” (p. 658)
“Cada componente da síndrome metabólica, por si só, aumenta o risco de doença cardiovascular, porém, quando combinado, ele se torna muito mais intenso. A resistência à insulina pode ser um fator etiopatogênico comum aos elementos da síndrome metabólica, embora essas conexões não estejam completamente entendidas.” (p. 658)
“... um indivíduo deve ser considerado como com síndrome metabólica quando tiver três ou mais alterações metabólicas associadas (obesidade abdominal, hipertrigliciridemia, HDL-colesterol reduzido, hipertensão arterial e glicemia de jejum alterada).” (p. 658)
“As diferentes classificações da síndrome metabólica têm proporcionado distintos valores da prevalência da doença em todo o mundo; estima-se que cerca de 20 a 25% da população mundial tenham essa síndrome.” (p. 659)
“Dados representativos da prevalência da síndrome metabólica na população brasileira praticamente não existem. O que pode ser encontrado são estudos realizados em populações com características específicas tais como a população de migrantes japoneses. Pelos critérios do NCEP 2, a população nipo-brasileira apresentou elevada prevalência da síndrome metabólica (57%) e de seus componentes – intolerância à glicose (69,5%), dislipidemia (66% com hipertrigliceridemia e 31,2% com HDL colesterol diminuído), obesidade central (42,4%), hipertensão arterial (56,8%).” (p. 659)
“A etiologia da síndrome metabólica é desconhecida, mas provavelmente ocorre a partir de uma interação complexa entre fatores genéticos, metabólicos e ambientais. Resultados de diversos estudos sugerem que o estado pró-inflamatório pode contribuir para o desenvolvimento dessa síndrome.” (p. 659)
“Processos inflamatórios crônicos relacionados à deposição visceral de gordura estimulam uma ampla ativação do sistema imune que, por sua vez, está envolvida na patogênese da resistência à insulina, do diabetes mellitus do tipo 2, das dislipidemias e da aterosclerose.” (p.659)
“Gengivites e periodontites são as qualificações mais comuns de doenças periodontais. Essas doenças são reflexos de infecções bacterianas crônicas e, assim como em outras infecções, a interação hospedeiro-bactéria determina a natureza e a extensão da doença. As gengivites são doenças que causam vermelhidão das gengivas, alterações de contorno, sangramento à sondagem, edema e aumento do fluído gengival(...). Já nas periodontites, a inflamação gengival se estende para o sistema de suporte do dente (ligamento periodontal, cemento radicular e osso alveolar) e as perdas de suporte ósseo e de tecido conjuntivo são achados clínicos característicos dessas doenças.” (p. 659)
“As periodontites são doenças infecciosas causadas predominantemente por bactérias anaeróbias gram-negativas (...), enquanto que as gengivites crônicas são causadas por cocos e bacilos aeróbios gram-positivos. (...) nas periodontites, o epitélio ulcerado das bolsas periodontais serve como meio de entrada para as bactérias e seus produtos na corrente circulatória, além disso, pela maior capacidade de virulência, as periodontites ativam a resposta inflamatória local em proporções muito superiores que nas gengivites. Portanto, poderiam ser lançados na corrente circulatória produtos da inflamação periodontal relacionados com a etiologia da síndrome metabólica.” (p. 660)
“... o papel das doenças periodontais sobre as alterações sistêmicas estaria relacionada à alta produção de citocinas pró-inflamatórias, lançadas na corrente sanguínea, durante os períodos de doença periodontal ativa, que, por sua vez, estariam implicadas no aparecimento ou agravamento de diversas condições metabólicas sistêmicas.” (p.660)
“A população de origem japonesa (nikkei) se constitui em interessante modelo para o estudo da síndrome metabólica (e de suas complicações), (...) esta população apresentava baixa morbidade por diabetes mellitus e por doenças cardiovasculares. Após sofrer importantes mudanças sócio-culturais, em curto período de tempo, passou a apresentar alto risco para esse grupo de doenças . (...). Assim, julgou-se oportuno investigar, na comunidade nipo-brasileira, a existência de associação entre as presenças de doença periodontal e de síndrome metabólica, controlando-se o efeito de possíveis fatores de confusão.” (p. 660)
“Esse estudo foi planejado com o intuito de estudar a relação entre doenças periodontais e síndrome metabólica na população nipo-brasileira – (...) Os principais achados foram a elevada prevalência de doenças periodontais, edentulismo e síndrome metabólica na população investigada e a ausência de associação entre periodontites e a síndrome metabólica. Dos indivíduos investigados, 47% apresentaram ou gengivite ou periodontite, valor esse considerado elevado, mas compatível com os observados em outros estudos, contudo essa comparação deve ser feita com cautela, pois diferentes procedimentos foram utilizados para o diagnóstico e classificação das doenças periodontais.” (p. 665)
". Neste estudo, quando se detém especificamente aos casos de periodontites, o número de indivíduos doentes diminui consideravelmente (de 47% para menos de 10% com periodontites); esses valores concordam com a baixa prevalência de periodontites encontrada na população adulta brasileira – entre 9,9 e 6,3%, segundo a faixa etária analisada. Uma possível explicação para os baixos valores de prevalência das periodontites na população brasileira adulta (de origem nipônica ou não) é a alta prevalência de edentulismo observada entre brasileiros adultos.” (p.665)
“O aumento da prevalência e do agravamento da perda de inserção periodontal com a evolução das periodontites associa-se diretamente ao aumento da idade, porém acredita-se que a maior destruição periodontal nos idosos seja mais reflexo do histórico de doenças periodontais acumuladas ao longo dos anos do que uma condição específica da idade.” (p. 665)
“O tabagismo tem sido considerado um fator de risco para o desenvolvimento das doenças periodontais mesmo em pacientes com bom nível de higiene oral, além disso, o controle da doença nos pacientes que fumam é, em geral, mais difícil.” (p. 666)
“Maior gravidade da doença também está relacionada com o hábito de fumar, sendo que o grau de perda óssea alveolar e o número de dentes perdidos são maiores entre os indivíduos fumantes quando comparados aos não fumantes; os mecanismos que explicariam essa relação incluiriam a diminuição da vascularização periodontal, o enfraquecimento da resposta inflamatória e salivação - importantes defesas contra os periodontopatógenos - e o comprometimento de células envolvidas no processo de reparação dos tecidos periodontais.” (p. 666)
“Neste estudo, o edentulismo foi um achado freqüente (36,8%). Para a população brasileira total, essa porcentagem é também elevada. No estudo realizado pelo Ministério da Saúde entre os anos de 2002 e 2003, 11,4% dos indivíduos com idade entre 35-44 anos foram considerados como tendo edentulismo, já para os com idade entre 65-74 anos, a prevalência de edentulismo foi de 60,8%.” (p. 666)
“A perda dental priva o indivíduo de ingerir determinados alimentos, o que pode comprometer seu estado nutricional e, conseqüentemente, sua saúde geral 49. Diversos fatores podem estar relacionados ao edentulismo (idade, fumo, estado sócio-econômico, práticas de higiene inadequadas, atitudes sociais e culturais, bem como a filosofia do profissional dentista). Sabe-se que as periodontites são consideradas um dos mais representativos fatores de risco para a perda precoce dos dentes na população adulta.” (p. 666)
“Como era esperado, nesse estudo, indivíduos com síndrome metabólica se caracterizaram por pior perfil antropométrico e metabólico, destacando-se o número elevado de nipo-brasileiros com sobrepeso, resistência à insulina, níveis séricos elevados de creatinina e ácido úrico.” (p.666)
“As alterações metabólicas que compõem a síndrome metabólica (intolerância à glicose, obesidade, hipertensão arterial, dislipidemias) são alvos freqüentes de estudo(...), as evidências existentes indicam que condições inflamatórias podem contribuir para o aparecimento desses distúrbios. Microorganismos periodontopatogênicos produzem endotoxinas na forma de lipopolissacarídeos que são ativadores da resposta imune destrutiva dos tecidos do hospedeiro. Sabe-se que a destruição dos tecidos periodontais é mediada por citocinas pró-inflamatórias(...), assim, pode-se supor que, em alguma medida, essas substâncias possam contribuir para o desenvolvimento da síndrome metabólica e doenças associadas.” (p. 667)
“Nos últimos anos, diversas pesquisas relacionando saúde bucal e saúde sistêmica foram realizadas(...), foi considerada a possibilidade de que as doenças periodontais fossem fatores de risco para o desenvolvimento ou agravamento de condições sistêmicas como a resistência à insulina, o diabetes mellitus do tipo 2, a obesidade e as dislipidemias.” (p. 667)
“Em síntese, na população nipo-brasileira, a prevalência de alterações periodontais clínicas foi elevada. Entre os pacientes com periodontite, houve uma discreta elevação na prevalência da síndrome metabólica, quando comparados ao grupo dos que não tinham periodontite. Porém essa associação não pode ser comprovada estatisticamente. Apesar da ausência de associação, não pode ser descartada a possibilidade de que essa relação exista.” (p. 667)
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